A palpação retal permite realizar o diagnóstico de gestação por palpação direta do útero através da introdução da mão e o braço do médico veterinário pelo reto em animais de grande porte como a vaca e a égua.
O procedimento é comumente chamado de toque na rotina de campo. O procedimento baseia-se no conhecimento da anatomia da genitália e na evolução fisiológica (transformações anatômicas) da gestação.
Para Zemjanis (1966) o uso da técnica do diagnóstico precoce da gestação na vaca, por palpação retal deve ser a partir dos 28 dias. Nesse procedimento, passa-se o polegar de um lado do corno uterino e os demais dedos do outro lado, com a finalidade de avaliar o diâmetro do corno. A gestação, nesta fase, se caracteriza por uma estrutura túrgida, de espessura discretamente maior em relação ao corno uterino não gestante. Esse mesmo autor não recomenda essa prática de diagnóstico tão precoce devido aos riscos de danos à vesícula amniótica.
Pela palpação retal as características clínicas observadas nos diferentes estágios de gestação da vaca (Pimentel, 1998) são as seguintes:
- 28 dias: geralmente só é viável em novilhas; caracteriza-se por apresentar um espessamento da vesícula embrionária no corno uterino da gestante;
- 32 dias: realiza-se o beliscamento (deslizamento do corio-alantóide sobre a parede do útero) demonstrando a presença de paredes duplas. Esse procedimento deve ser realizado no corno oposto ao do corpo lúteo, onde se encontra o embrião, para que este não seja lesionado. Nesse período a placenta já se expandiu pelos dois cornos;
- 45 dias: a assimetria é evidente e denomina-se pequena bolsa;
- 90 dias: o útero pode ser contornado, em toda sua extensão, com a mão, e chama-se grande bolsa;
- 120 dias: o útero toma forma de balão e não se consegue passar a mão por debaixo dele; encontra-se distendido e tenso;
- 5 meses: a cérvix está pesada e afunilada para baixo e essa fase é denominada fase de descida;
- 6 meses: o feto atinge a base do abdômen; 7 meses: o feto começa a voltar para a cavidade pélvica, palpa-se a cabeça do feto, denomina-se fase de subida;
- 8 meses: o feto começa a se posicionar para o parto.
Uma observação a ser feita é que a partir dos 4 meses, nota-se o frêmito da artéria uterina média (vibração, diferente de pulsação) que é assimétrico, sendo mais intenso e a artéria mais espessa no corno gestante e por isso deve-se palpar os dois lados.
O clínico encontra um problema sério quando ocorre morte fetal, aborto ou puerpério inicial onde o útero se encontra profundamente na cavidade abdominal e não se palpa feto. Pode-se ter dificuldades de diagnosticar gestação ou essas anormalidades entre 5 e 6 meses de gestação. A viabilidade da gestação nessa fase pode ser avaliada através da palpação do frêmito da artéria uterina média que não está presente nas situações anormais.
Mies Filho (1970) descreve técnicas alternativas laboratoriais para diagnóstico de gestação em diferentes espécies domésticas e destaca as limitações de seus usos. Para a vaca sugere o teste de Cuboni que se baseia na detecção de estrogênio na urina que, na égua, seria viável a partir dos 120 dias de gestação e, na vaca, a partir dos 150 dias.
Palmer e Driancourt, a partir de 1980, registraram a utilização da ecografia do trato genital da égua. Em 1986, Curran et al, documentaram imagens de ultrassonografias do concepto bovino. Embora seja possível diagnosticar gestação no bovino, através de ultrassonografia, a partir do 20º dia, a exatidão desse diagnóstico é, praticamente, de 100% a partir do 25º dia. A introdução do transdutor linear de 5MHz através do reto proporciona imagens no monitor que aparecem em preto quando não há ecogenicidade,ou seja, em estruturas líquidas. A imagem branca (ecogênica) é gerada quando as ondas sonoras refletem em estruturas sólidas
O produtor consegue aperfeiçoar sua produção utilizando esse procedimento como ferramenta de manejo.
A técnica mais apropriada, a partir dos 45 dias de gestação para o diagnóstico, é a palpação retal. O uso de ultrassom é recomendado para diagnóstico precoce, em situações de perdas de gestação, problemas de infertilidade e monitoração de saúde fetal.
Os principais benefícios deste procedimento para o produtor, em resumo, seriam: descarte de vacas vazias (seleção por fertilidade); destinar melhor potreiro para as gestantes; comercialização; monitoramento de perdas de gestação (mortalidade embrionária e abortos) e tomando decisões diagnósticas para seu controle; descarte de vacas com gestação inadvertida (“cria roubada”) para aliviar lotação de potreiros de acasalamento; remover as vacas com gestação precoce (25 dias), progressivamente, dos potreiros de inseminação, através de ultrassonografia, aliviando a lotação e evitando perda de peso do lote (estiagem no verão).
A utilização adequada do diagnóstico de gestação na produção bovina proporciona lucros ao produtor. As informações fornecidas pelo diagnóstico podem ser usadas para decisões de manejo visando atender as necessidades nutricionais dos animais e de manejo da propriedade.
Fonte: Grupo Cultivar
Autor: Cláudio Alves Pimentel
Adaptação: Revista Veterinária
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