Bem-estar é uma qualidade inerente aos animais e se refere ao estado do indivíduo em relação às suas tentativas de se adaptar ao ambiente. Bem-estar animal pode ser medido cientificamente através de características biológicas, como produtividade, sucesso reprodutivo, taxa de mortalidade, comportamentos anômalos, atividade adrenal, grau de imunossupressão e incidência ou severidade de ferimentos e doenças (BROOM, 2004).
A temática do bem estar animal surgiu na França nas décadas de 80, que questionava os sistemas industrializados de produção animal quanto às condições de vida e saúde dos animais (PORCHER, 2004). Tendo como conceito, o estado de um animal em relação às suas tentativas de adaptação ao seu ambiente, em que, para que ele possa enfrentar com sucesso o ambiente, há necessidade de controle da estabilidade mental e corporal (BROOM, 1991).
A definição de bem-estar animal tem dimensões amplas, que envolve três elementos (GOMES, 2008; HONORATO, 2006): (1) as experiências subjetivas: sabe-se que sentimentos como fome, dor e medo podem ser identificados nos animais e estudos demonstram que há os indicadores comportamentais (fuga, defecação) e fisiológicos (batimentos cardíacos, concentração hormonal); (2) o estado biológico do animal: medidas biológicas, como crescimento e reprodução; (3) a natureza da vida animal, ou seja, seu desenvolvimento genético e adaptação comportamental.
Para promover melhores condições aos animais e aumentar sua produtividade e reprodutividade, torna-se necessário a adotar o bem-estar e aplicar boas práticas de manejo. Um dos principais obstáculos para oferecer um melhor tratamento aos animais nas propriedades rurais é o custo adicional nos sistemas de produção que contemplam bem-estar (SPEDDING, 1994).
A interação entre humanos e bovinos ocorre durante o desenvolvimento das atividades de rotina (ordenha, alimentação, cuidados sanitários e outras práticas zootécnicas), com reflexos no comportamento, fisiologia e produtividade animais (Hemsworth et al., 1993).
A influência mútua entre homem animal é fundamental, pois sendo esta negativa ou positiva resultará em diferentes respostas comportamentais, fisiológicas e produtivas no animal.
O processo de industrialização rompeu com o “contrato social” entre humanos e animais domésticos, em que o bem-estar deveria ser um requisito para o bem-estar do outro. A natureza das interações pode ser positiva, neutra ou negativa. De acordo com a natureza da interação, o nível de medo dos animais pelos humanos pode ser alto ou baixo.
Alguns estudos sugerem que existem diferenças entre homens e mulheres na qualidade da interação com animais, com mulheres promovendo uma melhor relação (LENSINK et al., 2000), o que pode ser explicado por diferenças nas atitudes em relação a eles (KNIGHT et al., 2004).
Os animais quando são manuseados de forma gentil detém a reagir de forma calma. Atitudes, comportamento, personalidade, habilidades e conhecimentos humanos sobre a espécie com que se trabalha são determinantes no manejo dos animais.
Uma pessoa satisfeita com seu emprego esta estimulada a fazer bem o seu trabalho, a aprender e melhorar suas habilidades. Porém condições ruins de trabalho diminuem o nível de satisfação e, consequentemente, o tratamento dado aos animais ficará mais rude.
A qualidade das interações entre humanos e animais de produção na rotina diária de manejo, pode ter efeitos sobre a produtividade e fisiologia dos animais. Alterações nas concentrações periféricas de cortisol (WAIBLINGER et al., 2004) e nos batimentos cardíacos (SCHMIED et al., 2010) de vacas leiteiras são descritas em resposta a diferentes tratamentos recebidos.
Durante a ordenha pode ocorrer redenção do leite, caso a pessoa responsável pela atividade não consiga lidar com situações estressantes. A adrenalina que é liberada na corrente sanguínea durante momentos de estresse, tem ação contrária ao da ocitocina no processo de descida do leite (BREAZILE, 1988). Essa retenção de leite no úbere pode predispor uma mastite e diminuir uma produção de leite futuramente.
A produtividade é uma característica que pode ser utilizada para avaliar o bem-estar animal, pois a diminuição na produção pode indicar a falta de bem-estar. É importante entender que a máxima produtividade não é sinônimo de ótimo nível de bem-estar (BROOM, 1991) e que à medida que o sistema se torna mais intensivo e as técnicas de criação buscam explorar ainda mais o potencial biológico do animal, acontece aumentos adicionais de produtividade em detrimento do bem-estar animal.
Os bovinos têm a competência de reconhecer as pessoas que os manejam através de diferentes maneiras. É reconhecido que os animais jovens (bezerros) diferenciam as pessoas baseados em suas experiências prévias.
As vacas se mostram agitadas quando retornam aos locais onde ocorrem manejos aversivos, e se utilizam de informações visuais, como a face, a altura, ou formas do corpo de uma pessoa para reconhecê-la, sendo que, o odor parece não contribuir para a identificação (RYBARCZYK et al., 2001).
Autora: Rosangela Paula Gorlin
Adaptação: Revista Veterinária
Curso de Manejo Nutricional de Gado de Leite (Alimentos e Alimentação)