Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos Pet – Anfal Pet (2011), a população atual de gatos no Brasil gira em torno de 18,3 milhões e tem crescido anualmente. A tendência é que esse número aumente consideravelmente nos grandes centros urbanos, visto que eles são animais mais independentes e se adaptam facilmente a ambientes menores, como apartamentos. Isso significa que um novo nicho de mercado se abre para os clínicos veterinários de pequenos animais, já que a medicina felina trata-sede uma especialidade. Além disso, o proprietário de gatos é extremamente exigente e atento às particularidades e novidades do mundo felino, o que nos obriga cada dia mais conhecer melhor o paciente felino.
É fundamental que o clínico conheça as particularidades comportamentais, fisiológicas, farmacológicas e terapêuticas da espécie felina para prestar um atendimento clínico bem sucedido.
Gatos são animais que se estressam com bastante facilidade, especialmente quando não estão em seu habitat domiciliar. Podem mudar de comportamento rapidamente e, como são animais de bastante agilidade, a sua manipulação, a realização de procedimentos e a administração de medicamentos pode tornar-se difícil e às vezes perigosa. São territorialistas, mesmo quando não estão em seu ambiente. Entretanto, alguns gatos, quando saem da sua “zona de conforto”, ao sentirem-se intimidados, não agem com agressividade. A linguagem corporal felina é clara, dessa forma, é fundamental que reconheçamos suas estratégias defensivas e ofensivas. Toalhas, máscaras, bolsas e gaiolas fazem parte do arsenal veterinário para boa contenção do paciente felino, devendo ser usadas com segurança e cautela. Agilidade e técnica são fundamentais para contenção do felino. Se o gato ficar com um membro ou a cabeça presa em algum lugar, pode entrar em pânico e causar algum acidente. Jamais um gato dispneico deve ser contido! Muitos gatos, considerados irascíveis, não são manipulados sem sedação prévia.
Os gatos devem ser manipulados em locais tranquilos e sem aglomerações, minimizando os riscos para o animal agitado, além de acidentes com o veterinário e o proprietário. Não toleram bem ambientes barulhentos e com cheiros, além de movimentos bruscos, sendo situações altamente estressantes para eles. É importante atendê-los em áreas separadas, destinadas a eles, para que se sintam seguros. A presença de brinquedos e cobertores de proprietários contribui para isso.
Gatos são mais seletivos e sensíveis aos odores e paladares não familiares que cães, e alguns não aceitam medicação misturada aos alimentos ou em líquidos. Muitos proprietários não apresentam habilidade em administrar fármacos a seus gatos, sendo comum administração incorreta, resultando em concentrações plasmáticas inferiores às desejadas ou em até mesmo, acidentes durante a administração. Cabe ao clínico simplificar os tratamentos, selecionar a via de administração e frequência em função da disponibilidade do proprietário e da tolerância do paciente. Não existem ainda protocolos terapêuticos seguros para a grande maioria dos fármacos utilizados nos tratamentos das doenças de felinos, o que resulta em muitos erros de prescrição medicamentosa.
Atualmente, os clínicos veterinários têm conhecimento de que o gato não é um cão pequeno, aliás, é uma espécie muito diferente e particular! Suas necessidades nutricionais, seu metabolismo e sensibilidade aos medicamentos são bastante específicos. Dessa maneira, não respondem como os cães quando submetidos a uma variedade de situações e emprego de diversos fármacos. Na literatura, encontram-se vários relatos de reações adversas e intoxicações em felinos após o uso de diversos medicamentos. E apesar do grande esforço veterinário em se atentar mais às particularidades terapêuticas destes animais, ainda não existem protocolos terapêuticos seguros para a grande maioria dos fármacos utilizados nos tratamentos das doenças felinas, o que resulta em muitos erros de prescrição medicamentosa.As doses de medicamentos usadas em gatos são, em sua maioria, obtidas a partir das doses recomendadas para cães. Embora existam similaridades entre estas espécies, e a extrapolação de doses seja frequentemente bem sucedida, deve-se ter em mente as variações da farmacocinética e do metabolismo de drogas entre elas, a fim de evitar reações adversas.
Em resumo, gatos possuem características próprias, tanto comportamentais quanto fisiológicas. Portanto, devemos respeitar essas peculiaridades ao tratarmos essa espécie. Devemos considerar fatores como comportamento, idade, estado nutricional e de saúde, metabolismo, tipo de fármaco, forma do medicamento, via de administração e possibilidade do proprietário em medicar os seus gatos, minimizando assim, os riscos de efeitos adversos na rotina de atendimento aos felinos.
Por: Tathiana Mourão dos Anjos (ANJOS, T.M.)
Conheça o Curso de Emergências e Pronto Atendimento em Pequenos Animais