A raiva é uma doença infectocontagiosa que pode acometer todas as espécies de mamíferos, desde humanos, cães, gatos até ruminantes e animais silvestres. Tida como uma das doenças mais antigas relatadas, a raiva, também conhecida como “hidrofobia”, tem sua primeira descrição em materiais da Mesopotâmia e Egito, por volta do século XXIII a.C., que a aponta como “doença letal acometida por uma mordida de um cão louco”.
A palavra raiva tem origem no sânscrito, onde Rhabas tem o significado de fazer violência. Naquela época, não muito diferente de hoje, a raiva era tão temida pelas pessoas que elas próprias a mistificaram como um deus egípcio, chamado Sírius, na forma de um cão furioso, provavelmente devido à maior incidência de casos da enfermidade no final do verão, que, coincidentemente, era a mesma época em que se visualizava a constelação Cão Maior, incluindo Sírius, durante o firmamento.
Ela não é tão temida por um simples acaso, uma vez que é atribuída à maior taxa de letalidade, sendo considerada 100% fatal e não há uma classe social mais propensa, ou seja, acomete classes mais altas e mais baixas com a mesma probabilidade. Mundialmente, estima-se que entre 45.000 a 60.000 pessoas morrem pela enfermidade a cada ano, sendo que a maior parte dessas mortes é em países asiáticos.
No Brasil, a raiva é endêmica, em níveis diferenciados, de acordo com a região. A região Nordeste é responsável por 61,5% dos casos humanos registrados de 1986 a 1996, seguida da região Norte com 18,3%, Sudeste com 11,2%, Centro-Oeste com 8,7% e Sul com 0,2%.
Além da saúde pública, a raiva está associada diretamente com prejuízos em criações, principalmente na pecuária. Os herbívoros, principalmente bovinos, estima-se que são atacados por morcegos hematófagos infectados com o vírus e contraem a doença, provocando uma perda anual que supera os 50 milhões de dólares. No período de 1995 a 2000, foram notificados cerca de 25.000 casos de raiva na América Latina, sendo que 74% deles ocorreram no Brasil e a espécie bovina foi a mais afetada.
Ele pode sobreviver em uma carcaça congelada à -30 a -80ºC por anos, porém em temperaturas de 20ºC sobrevive por menos de 24 horas e carcaças de animais recentemente abatidos ou mortos devido à doença, em que se encontre ainda em uma temperatura aproximada a 37ºC, somente por alguns minutos. Anti-sépticos como sabão, álcool e amônio quaternário são bastante efetivos na destruição viral.
A transmissão se dá pelo contato da saliva do animal infectado com mucosas ou lesões na pele, geralmente provocadas pela mordida do animal raivoso, provocando uma infecção imediata.
Os sintomas mais característicos são os distúrbios comportamentais como agresividade, sensibilidade à luz (fotofobia) e à água (hidrofobia).
A contenção é feita através do controle de “vetores”, como morcegos próximos a estábulos e currais, além de controle sanitário de roedores. Porém, só esses cuidados não são suficientes, sendo necessária a vacinação anual de todos os animais.
Humanos, mordidos por animais raivosos ou animais sem procedência conhecida, devem entrar em contato imediato com uma unidade de saúde, para tomarem o soro contendo anticorpos prontos, adquirindo imunidade passiva imediata. Profissionais da área, como Médicos Veterinários, devem ser vacinados para sua maior segurança, pois lidam com animais enfermos, dia- a -dia.
Para os pacientes que seguem as recomendações da O.M.S, o esquema para vacinação consiste em 3 doses da vacina nos dias D0, D7 e D28. Uma a três semanas após a última dose, deve -se verificar a taxa de anticorpos neutralizantes no indivíduo vacinado. O reforço deverá ser administrado quando o título de anticorpos obtido for inferior à 0,5 U.I./ml.
Para indivíduos não expostos ao risco, deve-se fazer 1 dose de reforço, um ano após a primeira dose e depois, um reforço a cada 3 anos.
Fonte: Tratado de Animais Selvagens
Adaptação: Revista Veterinária
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