O botulismo é uma intoxicação não febril, geralmente fatal, caracterizada por paralisia flácida, envolvendo a musculatura da locomoção, mastigação e deglutição. Nos bovinos, o botulismo é causado pela ingestão das neurotoxinas C ou D de Clostridium botulinum, previamente formadas em matéria orgânica vegetal ou animal decompostas, constituindo uma das principais causas de mortalidade bovina nos sistemas de produção de corte e leite, do país, e nos confinamentos.
Frequentemente associada à ingestão de alimentos contaminados, nos confinamentos, a intoxicação causa prejuízos consideráveis, podendo a mortalidade facilmente chegar a 30% do rebanho. As perdas decorrentes do baixo desempenho dos animais sobreviventes, na maioria das vezes, não devidamente quantificadas, também são relevantes.
O desconhecimento dos produtores sobre como avaliar o potencial de risco da doença e a ausência de vacinação do rebanho são os fatores que determinam a intensidade dos surtos.
Contaminação ambiental
O botulismo foi observado, inicialmente, no Piauí, no final da década de 1960, sendo denominado, na ocasião, de “doença da mão dura”. Nas décadas de 1970, 1980 e até meados de 1990, a doença foi responsável por grandes surtos nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. No Rio Grande do Sul, ficou conhecida como “Mal de Alegrete”. As estimativas indicam que mais de seis milhões de animais morreram entre os anos de 1985 a 1999 devido à intoxicação nessas regiões.
Os surtos clássicos de botulismo estão associados à ingestão da toxina previamente formada em carcaças decompostas, em alimentos indevidamente armazenados (milho, silagem, casca de soja peletizada, feno, ração), em cama de frango, ou ainda pela veiculação hídrica. Nos confinamentos, o que determina a intensidade de um surto é a quantidade de alimento contaminado pela toxina botulínica.
Um dos fatores mais importantes para a ocorrência da doença, associado à utilização de alimentos contaminados, foi a intensificação da contaminação ambiental pelo Clostridium botulinum – a bactéria formadora da toxina botulínica.
Com a ocorrência de mortalidade bovina pelo botulismo, em praticamente todas as regiões do país, e o uso de procedimentos questionáveis, como o de se deixarem cadáveres entrar em decomposição, na pastagem, ou mesmo o de enterrá-los, houve um aumento da contaminação ambiental pela bactéria. Cada cadáver bovino que entra em decomposição, na pastagem, tem a capacidade de contaminar, intensamente, um raio de 30 metros ao seu redor, com esporos- forma de resistência da bactéria que pode permanecer viável por décadas no solo. Assim, alimentos cultivados nessas áreas estão, desde a sua origem, contaminados pelos esporos da bactéria.
Ocorrência de mortes
Nos bovinos, o quadro clínico do botulismo varia, consideravelmente, na dependência da quantidade de toxina ingerida. O envolvimento da musculatura da locomoção, mastigação e deglutição é bem definido em todas as formas de evolução, variando, no entanto, a intensidade da manifestação clínica. O período de incubação pode variar de poucas horas até 16 dias. A quantidade de toxina ingerida e a suscetibilidade do animal determinam o período de incubação e a evolução clínica. Quanto maior a quantidade ingerida, menor é o período de incubação e mais rápida é a evolução clínica. Isso significa que os animais podem ser encontrados mortos, ou alguns até sobrevivam à intoxicação.
Os sinais clínicos da intoxicação botulínica incluem, inicialmente, dificuldade na locomoção e estado mental aparentemente normal. Com a evolução, intensifica-se a paralisia flácida parcial ou completa da musculatura dos membros, acentuadamente dos posteriores, seguida de decúbito esternal ou lateral, e a percepção sensorial se mantém mesmo depois de estabelecida a paralisia muscular. Em casos crônicos, esses sinais podem não estar bem caracterizados. O apetite permanece inalterado em alguns animais, que, geralmente, manifestam movimentos mastigatórios lentos e conseguem inclusive ingerir água. Na fase final da intoxicação, os animais entram em decúbito lateral e morrem de parada respiratória em períodos variáveis.
Medidas preventivas
Em casos suspeitos de ocorrência da doença, em um confinamento, devem-se de imediato retirar os alimentos suspeitos. Sob a orientação de um veterinário, deve-se avaliar a possibilidade de administrar um laxante aos animais, na tentativa de diminuir a eventual absorção de toxina. No entanto, essa prática tem limitações, na dependência do número de animais.
Tendo em vista o risco permanente da ocorrência do botulismo em animais confinados, é extremamente oportuno incluir a prática da vacinação dos animais antes de eles entrarem no confinamento. Animais vacinados pela primeira vez devem receber um reforço, preferencialmente 42 dias após. Nessa condição e com o uso de uma boa vacina, a maioria dos animais estará protegida, satisfatoriamente, contra a doença.
Aliada à prática de vacinação, devem-se concentrar esforços, para produzir e armazenar alimentos de qualidade, evitando as situações de risco. Não se deve ainda utilizar a cama de frango na alimentação de ruminantes.
Fonte: Revista Cultivar
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