Animais em condições dolorosas: manter a tradição ou defender a vida?

Muitas tradições culturais submetem os animais a condições dolorosas. Dessa forma, é questionável se a cultura de um grupo pode ser condenada sob a justificativa da preservação desses tratamentos para com os animais.

O questionamento virou um embate que recebeu atenção na revista Nature, na qual pesquisadores da Universidade de Silvicultura de Pequim, na China, denunciaram a criação em cativeiro de cerca de 10 mil ursos-negros asiáticos para a extração de sua bile, usada na medicina tradicional chinesa como remédio para tratar problemas da visão e do fígado.

Na revista, por meio de um artigo, os autores Xia Sheng, Haolin Zhang e Qiang Weng argumentam que a prática de retirada da bile é cruel e causa sofrimento aos ursos e defenderam que a ciência já consegue produzir a substância em laboratório.

Além dessa tradição chinesa, tradições de muitos outros países são atacadas por defensores dos direitos dos animais. No Japão, por exemplo, o principal alvo de críticas é o consumo da carne de baleia, ingrediente da culinária tradicional de algumas regiões do arquipélago. Na Espanha, as tradicionais touradas despertam ira há tempos. Em 2010, a Catalunha, região autônoma no Nordeste do país, proibiu as festas, em que um touro “duela” com o toureiro.

Para Silvana Andrade, fundadora da Agência de Notícias dos Direitos dos Animais (Anda), as tradições culturais como argumento não justificam o tratamento ao qual algumas espécies animais são submetidas.  Ela defende que não existe tradição que justifique a crueldade e que as tradições estão aí para serem quebradas.

 Andrade lembra que a sociedade avançou do ponto de vista moral e ético, por isso não aceita mais condições de sofrimento, morte ou privação da liberdade como meio de manter os animais.

Silvana Andrade, usando exemplo de tradição, argumenta que da mesma forma que a cultura ocidental considera estranho o consumo de carne canina por asiáticos, os indianos estranham o consumo ocidental de carne de vaca.  De acordo com ela, o valor em questão é o da vida e não da espécie, uma vez que dor é a mesma para os animais.

Fonte: Jornal Estado de Minas

Adaptação: Revista Veterinária

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