Cruzamento entre espécies resulta em animais que favorecem a doma, o que facilita o trabalho dos peões em fazendas e pequenas propriedades
Dóceis e de doma mais fácil que os animais crioulos. Suportam mais peso, apesar de não serem tão ágeis para os campeiros. Destacam-se por serem mais largos do que altos e são cerca de 20% mais pesados que uma das espécies que lhe deu origem. Essas características são heranças do cruzamento entre machos da raça percheron e éguas crioulas, que deu origem a cavalos mais resistentes, com grande poder de tração, o que diminui o uso de máquinas e tratores nas lavouras, principalmente de pequenos produtores rurais.
A motivação para o cruzamento surgiu a partir de um dado no mínimo curioso. Segundo um levantamento feito pelo Ministério da Saúde, nos últimos quatro anos a proporção de pessoas com excesso de peso subiu de 42,7% para 46,6%. Os dados foram evidenciados nas propriedades de Pedro Monteiro Lopes, diretor do Grupo Pitangueira, que notou que seus funcionários estavam ganhando peso, o que exigia animais mais fortes. De acordo com o também presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Percheron, animais menores não aguentavam carregar o peso médio de 80kg dos trabalhadores.
A experiência vem sendo realizada há quatro anos e, atualmente, existem 25 exemplares cruzados. O objetivo de Pedro é, até o final de 2011, dobrar o número de equinos “percheirolos”, denominação informal para os cavalos. Técnico agrícola do Grupo Pitangueira, Miguel Pessano comenta que o cruzamento foi todo realizado em campo. Ele conta que os animais cruzados herdaram a docilidade e a força dos percherons e a agilidade e resistência da raça crioula. Os resultados foram animais de cinco a dez centímetros mais alto do que um crioulo (as fêmeas apresentam entre 1m38 e 1m50 e os machos, de 1m40 a 1m50), mas com medidas não tão generosas quanto as do percheron, que puros chegam a quase dois metros de altura e 600kg.
– Esse cruzamento é pioneiro, o que traz consigo problemas com a experiência. Existe um tamanho mínimo para cruzar esses animais para não ter problemas na monta ou na parição. É necessário cuidado com o nascimento dos potros cruzados, que é mais delicado. Apesar de não termos tido problemas, é recomendável acompanhamento. Eles nascem parecidos com o crioulo. É a partir do segundo mês que dá para notar que as ancas do animal ficam levemente divididas e maiores que as de um filhote crioulo puro – observa Pedro Monteiro Lopes.
O diretor do Grupo Pitangueira ressalta que a docilidade da espécie facilita a doma. Ele conta que a quantidade de indenizações por queda fez com que muitos criadores parassem com a criação de éguas e comprassem cavalos já amansados. Por isso, Pedro acredita que os percheirolos, rústicos e fortes, possam conquistar uma parcela do mercado. Afinal, diminuem os riscos de acidentes nos trabalhos dos peões. Já o técnico Miguel Pessano destaca os cuidados com a alimentação e medidas fitossanitárias.
– Os exemplares da Pitangueira, em relação à nutrição, exigem 12kg de ração, 8kg de alfafa e pastagens de inverno e verão. Na parte sanitária, é preciso o controle de verminose mensal e vacinação regular. O principal benefício do investimento nesse cruzamento foi no que diz respeito à tração, já que esses cavalos são usados nas fazendas para colocar ração para o gado, utilizando a carroça como meio de transporte – exalta Miguel.
O plano de Pedro Lopes, a longo prazo, é preparar equinos para a polícia, por conta de eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Ele informa que um grupo de 60 éguas está sendo posto em cobertura com esta finalidade. A procura pelos cavalos já existe e eles podem ser comercializados por R$5 mil, enquanto um percheron puro custa em torno de R$25 mil.
Autor: Breno fonseca
Fonte: Porta dia de campo
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