Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE), identificaram uma mutação genética natural em ovelhas da raça Santa Inês que está fortemente relacionada ao aumento da ovulação e prolificidade (capacidade de se multiplicar, gerar prole)
Essa descoberta é inédita no Brasil e pode beneficiar significativamente os sistemas produtivos e agricultores familiares da região Nordeste do Brasil, que concentra o maior rebanho de Santa Inês do País, além de outras regiões brasileiras, já que essa raça tem se expandido nas últimas décadas. A apresentação da tecnologia ocorreu durante as comemorações do 38º aniversário da Embrapa, realizada na terça-feira (26).
O pedido de patente para proteger o procedimento de identificação da mutação em laboratório já foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A variante FecG-Embrapa, que é um alelo (em linguagem corriqueira, alelo pode ser explicado como o “endereço” do gene) natural do gene GDF9 (Growth Differentiation Factor 9) foi identificada pelos cientistas da Empresa após estudos com marcadores moleculares desenvolvidos desde 2004. A variante FecG-Embrapa do GDF9 ocorre de forma natural nas ovelhas da raça Santa Inês e permite que tenham uma ovulação até 82% superior a outras que não possuem essa alteração. O aumento na taxa de ovulação faz com que as ovelhas tenham 58% mais crias do que as ovelhas da mesma raça que não possuem tal variante.
A tecnologia foi testada com as ovelhas do Núcleo de Conservação de Ovinos Santa Inês da Embrapa Tabuleiros Costeiros, que tem como curador o pesquisador Hymerson Azevedo. Ele coordenou os processos de seleção dos animais e coleta de dados. “Estamos observando um crescente interesse de produtores a respeito deste trabalho”, afirmou.
Segundo o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Eduardo Melo, a descoberta da mutação foi como encontrar “uma agulha no palheiro”, visto que há cerca de 25 mil genes que codificam proteínas no DNA das ovelhas e cada gene pode ter dezenas ou até centenas de mutações que ocorrem de forma natural.
Após identificarem a alteração natural no DNA das ovelhas e comprovarem a sua relação com o aumento na taxa de ovulação e prolificidade, os pesquisadores das duas Unidades da Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, desenvolveram uma metodologia baseada em técnicas de biologia molecular que permite identificar de forma rápida e eficiente essa mutação em qualquer rebanho ovino.
Tecnologia de genotipagem para produtores rurais
Trata-se da metodologia de genotipagem, que possibilita identificar a presença da variante FecG-Embrapa em um exame de sangue comum de forma rápida e eficiente. Com isso, como explica Melo, o produtor vai poder planejar os cruzamentos no seu rebanho de acordo com as suas estratégias e necessidades.
Essa tecnologia pode ter uma forte implicação em termos de produtividade dos rebanhos ovinos, na medida em que eleva o potencial de gestação e prolificidade das ovelhas. “A maioria desses animais é mono-ovulatória, ou seja, só tem um filhote por gestação. O uso da tecnologia aumenta a chance de gestações de gêmeos”, afirma Ricardo Figueiredo, outro pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Levando em consideração que um dos maiores entraves para a ovinocultura brasileira são os baixos índices de produtividade em consequência do fraco desempenho reprodutivo e produtivo dos rebanhos, a tecnologia desenvolvida pela Embrapa pode resultar em impactos significativos para os setores produtivos no Brasil.
O objetivo dos cientistas daqui para frente é disponibilizar o processo de genotipagem para a sociedade.
Além disso, o rebanho de ovinos da raça Santa Inês contendo a variante FecG-Embrapa mantido pela Embrapa Tabuleiros Costeiros também pode ser multiplicado e disponibilizado para os produtores. “A ideia é validar o uso desses animais mais prolíficos nos sistemas de produção e analisar seu impacto na produtividade e eficiência econômica da ovinocultura”, explica Hymerson.
Segundo o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em pouco tempo, matrizes, reprodutores, sêmen e embriões de ovinos Santa Inês mais prolíficos poderão estar disponíveis para os produtores.
A Embrapa espera que essas ferramentas e produtos contribuam para tornar os sistemas de produção mais eficientes do ponto de vista econômico. Sem falar nos impactos sociais, já que os maiores beneficiários serão os sistemas produtivos e agricultores familiares da região Nordeste.
Fonte: Site Embrapa
Adaptação: Revista Veterinária
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