Investimento de criadores de cordeiro em genética e manejo tecnificado no PR

Os criadores de cordeiros de vários estados investem em técnicas que permitem antecipar o período de abate dos animais, o que ajuda a melhorar a qualidade da carne. No Paraná, o governo incentiva a criação com boa genética e manejo tecnificado. No ano passado, foram abatidos no estado cerca de 18 mil cordeiros dentro do Programa de Estruturação da Cadeia Produtiva de Ovinos. Em 2012, esse número deve passar de 20 mil.

O tom amarelo das lavouras de canola marca a paisagem de inverno na região dos Campos Gerais, no Paraná. No município de Castro, mais precisamente no distrito Castrolanda, que sofreu forte influência da colônia holandesa, fica localizada uma das mais conceituadas cooperativas do estado. Aos poucos, a criação de ovinos está ganhando espaço na região.

O criador está em busca de um rebanho apurado e que leve para a produção as melhores características das raças texel e ilie de france, específicas para a produção de carne. Além da cooperativa do município de Castro, a estruturação da cadeia produtiva de ovinos está presente em Guarapuava, Cascavel, Pato Branco e Londrina.

Um dos coordenadores do programa no estado, o veterinário da Emater, Cézar Pasqualin, ressalta a principal mudança que esse trabalho imprimiu nas propriedades nos últimos sete anos. “Nós deixamos de vender animal e passamos a vender carne. Porque nós estamos cansados de produzir e não saber que para quem entregar a produção. Essa produção tem que ter destino pré-concebido e não concebido por acaso a alguém que pediu, por acaso alguém produziu”, diz.

Uma das recomendações básicas do programa para quem deseja iniciar uma criação de ovinos é saber aproveitar o que já existe na propriedade. A estrutura com quatro barracões, que durante 15 anos foi usada como granja de suínos, abriga carneiros, ovelhas e cordeiros. A propriedade pertence à criadora Meire Prado, que desistiu da criação de suínos por conta das constantes crises no setor. Devido ao sistema de confinamento, Meire é uma das poucas criadoras da cooperativa que entregam cordeiros para abate o ano todo. “Nós entregamos uma média de 60 cordeiros por mês”, diz.

Para conseguir esse resultado, a propriedade faz indução de hormonal nas ovelhas. Na técnica é utilizada uma esponjinha impregnada de hormônios que estimulam o cio das fêmeas no momento de escolha da criadora. Assim, os partos vão se distribuir ao longo de todos os meses do ano.

Dentro dos barracões, os animais estão divididos por idade e finalidade. Uma área, por exemplo, é destinada às fêmeas selecionadas para o melhoramento genético do rebanho. Duzentas ovelhas da propriedade estão cadastradas na Associação Brasileira de Criadores de Ovinos e devem servir de base para um rebanho de raça pura.

Em outro barracão, ficam os cordeiros em terminação. Logo após a desmama, os animais passam a ser alimentados com dieta especial desenvolvida pelos técnicos da cooperativa. A formulação é composta por 20% de ração proteica à base de soja e 80% de milho em grão. O desafio é entregar ao frigorífico os animais com quatro meses, pesando entre 38 e 42 quilos.
Juntando alimentação adequada com boa genética, os cordeiros ganham um melhor acabamento ha hora do abate.

No sistema de confinamento, a criadora tem conseguido 47% de rendimento de carcaça, quantidade maior em relação aos 43% normalmente obtidos na criação de ovinos. “Com uma carcaça de 47%, nós conseguimos R$ 5,88 por quilo vivo. O custo seria de R$ 4,60. O nosso lucro seria de R$ 1,28”, diz Meire.

O veterinário Tarcísio Bartmeyer ajuda na organização financeira da criação e acompanha a sanidade e a nutrição do rebanho. Para ser considerada uma boa ovelha, cada matriz deve parir uma média de três cordeiros a cada dois anos. “A cooperativa tem um programa de gerenciamento técnico e econômico disponível a todos os cooperados”, explica.

Em outra propriedade da região, o holandês Willem van de Riet optou pela criação de ovinos a pasto. Desde que chegou ao Brasil, há 23 anos, essa é a primeira vez que decidiu lidar com animais na sua fazenda. A pastagem de azevém é uma cobertura de inverno que ajuda no preparo e recuperação do solo entre a colheita e o novo plantio das lavouras de verão. Nessa época do ano, os animais ocupam algo em torno de 30% da área da propriedade onde se faz agricultura.

Com animais de sangue texel e ile de france, o período de monta numa criação a pasto que não faz uso da indução hormonal nas matrizes ocorre nos meses de janeiro, fevereiro e março. Os nascimentos ocorrem em junho, julho e agosto. Os cordeiros ficam prontos para o abate em outubro, novembro e dezembro. Além do leite materno, logo que nascem os animais têm livre acesso a uma ração específica para essa fase da vida.

No inverno, os ovinos da propriedade pastam na área de azevém, onde depois serão plantados milho e a soja. No verão, o pastejo ocorre em oito hectares de capim tifton, divididos em 16 piquetes e reservados o ano todo para a criação desses animais. No tipo de manejo que alterna o pastejo entre o verão e o inverno ocorre a redução de casos de verminose, uma das principais doenças na criação de ovinos.

Por conta de todas as ações do programa, os criadores do Paraná estão mandando cordeiros mais jovens para o abate. Assim, é obtida uma carne de muito mais qualidade e maior valor de mercado. Para garantir o sucesso na comercialização, a Cooperativa Castrolanda fechou um acordo com um frigorífico do município e ampliou as instalações para que fosse feito o abate dos cordeiros. Com isso, foi possível agregar valor ao produto.

“Começamos com a comercialização de carcaça, mas percebemos hoje as famílias menores querem cortes mais porcionados. A partir daí, a gente começou a fazer pernil inteiro, paleta, lombo. Na sequencia, cortes porcionados. A partir do pernil, que é uma peça de com mais ou menos dois quilos, fizemos então os cortes porcionados atendendo aí a demanda do consumidor que prefere corte menores e até por facilidade e rapidez para se fazer”, explica Bartmeyer.

Assim ocorreu também com o lombo, que foi desmembrado no t-bone e no carré francês, a peça mais cara do cordeiro. “Infelizmente, produz pouco no cordeiro. Em uma carcaça que a gente utiliza mais ou menos 20 quilos, se produz no máximo 700 gramas do carré”, completa o veterinário.

Dentro do conceito de desenvolver todos os elos da cadeia produtiva de ovinos, a cooperativa decidiu investir no relacionamento com donos de bares, restaurantes e chefes de cozinha, ou seja, ganhar a confiança dos formadores de opinião para que a carne de cordeiro caia no gosto do consumidor.

Estrategicamente, o programa está desenvolvendo os mercados regionais ao invés de partir para grandes centros consumidores, o que ajuda na consolidação do produto no local onde a carne é produzida e na aquisição de conhecimento para que, no futuro, se consiga enfrentar negociações em maior escala.

Há três anos, a chefe de cozinha Teresa Borg incluiu a carne de cordeiro no cardápio do restaurante em Castro e tem ficado satisfeita com o resultado. “É uma carne fácil de trabalhar. Ela aceita qualquer tipo de tempero”, diz.

Fonte: Globo Rural

Adaptação: Revista Veterinária

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Atualizado em: 13 de agosto de 2012

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