Quem atua no atendimento a cães e gatos sabe o quanto os tratamentos odontológicos são requisitados e importantes nos cuidados com esses animais. Muito tutores ainda não sabem o que é a profilaxia dentária, muito menos com que os procedimentos que devem ser realizados em casa podem ser feitos. De modo geral, a profilaxia dentária, profilaxia oral, ou ainda, limpeza dentária é a limpeza realizada nos dentes do animal para remoção de tártaros, sujeiras e outros resíduos. Seu objetivo principal é evitar a evolução do quadro do animal para a doença periodontal.
A profilaxia dentária é realizada como tratamento odontológico pelo veterinário, contudo, existem procedimentos simples, como escovar os dentes do animal, que podem e devem ser realizados pelos tutores. Dessa forma, assim como nos humanos, a higiene bucal previne o aparecimento de doenças mais graves e garante o bem-estar do animal como um todo.
Neste artigo, vamos abordar mais sobre o que é profilaxia dentária, seus procedimentos realizados por médicos veterinários e sua importância na prevenção da doença periodontal em cães e gatos. Confira!
O que é a profilaxia dentária e como ela é realizada?
A profilaxia dentária é, essencialmente, uma limpeza profunda do tártaro acumulado nos dentes e gengivas do animal, buscando eliminar as placas bacterianas presentes, principalmente, nos dentes de cães e gatos. Assim, para entender melhor o que é a profilaxia dentária e o porquê dela ser diferente de uma higienização simples, é preciso entender como ela é realizada.
Antes de mais nada, esse procedimento deve ser realizado por um médico veterinário. Os tratamentos dentários de cães e gatos, devido às particularidades das espécies, devem ser realizados por médicos veterinários com experiência na área. Isso porque, na maioria dos casos, é recomendado o uso de anestésicos e sedativos durante os procedimentos. Assim, se garante a segurança do paciente e do profissional durante a realização da limpeza periodontal.
Além disso, a profilaxia dentária precisa ser realizada por um veterinário pois é necessária a realização de exame de saúde e avaliação de riscos para o animal, já que há uso de anestesia, bem como um exame completo de sua boca. Neste momento, é feita uma avaliação para detecção de qualquer tipo de anomalias como dentes fraturados, perda dentária, úlceras ou tumores.
Feita a avaliação, o veterinário deve examinar se há ou não a presença da doença periodontal, olhando a existência de bolsas entre as gengivas e os dentes com equipamento específico. Feito isso, o profissional parte para a remoção da placa e do tártaro, que segue do que está depositado nos dentes até a região subgengival. E, por fim, após a limpeza é realizado o polimento dos dentes para dificultar a formação de placas.
Ainda, em alguns casos, é necessária a realização de de exames de imagem para que a avaliação da saúde bucal do animal seja avaliada de forma mais profunda pelo veterinário.
Por que a profilaxia dentária em cães e gatos é importante?
Agora que já explicamos melhor o que é a profilaxia dentária veterinária, alguns ainda podem se perguntar se ela é realmente necessária quando há alternativas para prevenção de placas e tártaros que podem ser executadas pelos próprios tutores. A resposta é sempre sim, ela é extremamente necessária.
É verdade que existem práticas que evitam o aparecimento de placas e tártaros e, portanto, previnem doenças como a doença periodontal. Contudo, sabemos que nem sempre é simples para o tutor realizar esses cuidados sozinhos. Vale ressaltar que é importante realizar a escovação dos dentes do animal, diariamente e é necessário seguir as orientações do veterinário sobre como realizar a escovação de forma correta e segura.
Apesar dessas recomendações, essa não é a realidade de muitos animais com seus tutores. Assim, o aparecimento de placas e o surgimento de doenças bucais nos animais é recorrente e um atendimento comum em muitas clínicas e pet shops. Dentre as principais doenças que acometem a boca dos animais está a doença periodontal, caracterizada pelo acúmulo de tártaro, fraturas dentais, tumores e neoplasias e, especificamente nos felinos, é bastante comum à lesão reabsortiva odontoclástica felina, anteriormente conhecida como cárie dos gatos.
Profilaxia dentária no tratamento da doença periodontal
Entender o que é a profilaxia dentária e sua importância, parte também, de conhecer a doença periodontal e o que ela causa em cães e gatos. Primeiramente, a doença periodontal é responsável pela inflamação da gengiva (gengivite) e destruição de tecidos de sustentação do dente (periodontite). Além disso, ela é causada pela placa bacteriana, que é o resultado da organização de bactérias presentes na cavidade oral, devido à falta de higienização. O acúmulo de placa bacteriana na superfície do dente, e principalmente na região próxima a gengiva, induz a resposta inflamatória no organismo (gengivite), e a sua progressão (periodontite), que decorre do agravamento da infecção e do processo inflamatório.
O problema pode piorar quando a placa bacteriana sofre deposição de material mineral e forma o famoso “tártaro”. O tártaro é oriundo de um material pegajoso e amarelo que se deposita na superfície dos dentes (placa bacteriana ou biofilme) e que sofreu um processo de mineralização pela precipitação de sais minerais provenientes da saliva, sendo denominado de cálculo dentário. O problema é muito mais sério do que as pessoas possam imaginar. A doença periodontal é a causa de maior prevalência na clínica de pequenos animais, que se caracteriza pelo seu caráter crônico.
Consequências da doença periodontal
Quando a doença atinge o periodonto de sustentação (periodontite) pode haver lesões graves no osso ao redor do dente que são irreversíveis, podendo levar à perda do dente. A placa bacteriana presente também é responsável pela halitose (mau hálito), pois libera gases sulfurosos, responsáveis pelo mau cheiro.
Alguns sintomas são comuns nas doenças orais dos cães e gatos como:
- Mau cheiro na boca;
- Salivação intensa;
- Presença de secreção ou muco acentuado;
- Sangramento gengival;
- Dor e/ou desconforto;
- Dificuldade em mastigar ou engolir alimentos;
- Dente mole ou perda do dente.
Além disso, os sinais podem variar com aparecimento de sangramento nasal, espirros frequentes, aumentos de volume, causando deformação na boca ou nariz são sinais de que algo não está bem com o animal. Quando tratamos de felinos, animais que não se alimentam ou que não se lambem também podem indicar dor de dente.
As alterações provocadas pela doença periodontal não se restringem à cavidade oral, mas incluem diversas alterações sistêmicas, tais como:
- Doença renal (glomerulonefrite);
- Hepatite;
- Doença articular (poliartrite);
- Endocardite bacteriana.
Como se fosse o bastante, ainda há relatos na literatura sobre meningite e discoespondilite. Uma vez diagnosticada, o único tratamento efetivo é realizado pelo médico veterinário. O tratamento é complexo, e em diversas ocasiões, muitas extrações são necessárias. Além disso, mesmo com a profilaxia dentária feita de forma correta, para casos mais graves, a retirada dos cálculos dentários, sob sedação, não permite a completa remoção de todo cálculo, mascarando as lesões. Nesses casos, o animal deve ter acompanhamento periodontal, com exames de imagem para a identificação de lesões e acúmulo de cálculo subgengival.
Infelizmente a doença periodontal não tem cura, mas sim, controle. Isto porque a boca dos animais, assim como a dos humanos, não é estéril. O controle da placa se dá principalmente através da higienização diária (escovação) e profilaxias dentárias profissionais regulares.
Como prevenir casos graves de doença periodontal?
A realização da profilaxia dentária periódica, bem como o acompanhamento odontológico do animal é uma forma de garantir uma saúde bucal para os cães e gatos. Contudo, de nada adianta a realização do tratamento feito pelo médico veterinário se o tutor não participar ativamente do processo. Assim, os animais devem ter seus dentes escovados, se não diariamente, pelo menos com um intervalo de três dias, com o intuito de evitar a formação da placa bacteriana. Nesses casos, o importante na escovação dos dentes dos animais é torná-la agradável para o animal. Dessa forma, nunca se deve forçar uma escovação, isso pode estressá-lo e gerar algum trauma. Assim, deve-se procurar realizar o procedimento antes da atividade que o animal mais goste.
Recomenda-se utilizar escovas e cremes dentais específicos para animais. Ração seca, ossinhos, bifinhos, biscoitos e brinquedos auxiliam na remoção da placa bacteriana, mas não substituem a escovação diária.
Vale ressaltar que, assim como nos humanos, o acompanhamento odontológico e limpezas mais simples se fazem necessárias para o animal. Porém, quando se unem médicos e tutores nesse processo a prevenção de doenças é mais efetiva e os procedimentos veterinários menos complexos. Assim, se garante a saúde do animal, inclusive diminuindo seu risco em procedimentos clínicos.
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Fonte: Veterinária Inconfidentes e Vetsmart