Com o coração ainda machucado pela tragédia que causou a perda de muitas vidas em 2015, por conta do rompimento da barragem de fundão em Mariana (MG), os mineiros voltam a viver o mesmo pesadelo. Desta vez, ainda mais intenso, no dia 25 de janeiro foi a barragem da Vale em Brumadinho que rompeu e com uma enxurrada de lama arrastou vidas. No momento do desastre, estima-se que havia em torno de 300 funcionários na sede administrativa da empresa Vale, local mais afetado.
O rompimento liberou cerca de 13 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro da mina. Apesar de ainda não ter sido confirmada a toxicidade da lama, sabe-se que ao se misturar com a água ela sedimenta e pode levar a morte de animais e vegetação. O rastro de destruição levou casas, pousadas, sítios e a vida dos moradores e animais que ali se encontravam.
E não para por aí, em seu curso a lama chegou até a comunidade rural de Vila Ferteco e Rio Paraopeba. Segundo notícia publicada na folha de São Paulo, dos 427 funcionários da Vale, 279 foram encontrados com vida na noite de sexta feira. Na terça feira, dia 29/01 o número de desaparecidos aumentou para 228. Com esse evento o Brasil se torna palco da maior tragédia humana em decorrência de rompimento de barragens.
Para ter uma noção mais ampla, de acordo com relatório divulgado pela Agência de Meio Ambiente das Nações Unidas, ocorreram oito grandes acidentes pelo mundo nos últimos cinco anos envolvendo barragens. Infelizmente, o Brasil ocupa posição de destaque, pois é o país que detém a maior parcela. Abaixo listamos os impactos dos três eventos:
2013: Rompimento de uma barragem da Herculano Mineração em Itabirito (MG)
Número de mortos: 3
2015: Vazamento da barragem de Fundão, em Mariana (MG)
Número de mortos: 19
2019: Rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG)
Número de mortos até o momento: 121 corpos e muitas pessoas continuam desaparecidas
Ao realizarem investimentos em suas barragens, muitas empresas levam em consideração a segurança atrelada ao fator custo. O que pode gerar escolhas que acabam colocando a segurança em segundo plano. Assim, muitos especialistas recomendam que o fator segurança seja avaliado de forma isolada e tem de ser prioridade.
Entenda um pouco mais sobre os trabalhos de resgate
Desde o primeiro dia, cerca de 288 bombeiros trabalham incansavelmente nas operações de busca, que se tornaram ainda mais difíceis em função da complexidade de acesso por causa da lama de rejeitos. Muitos outros atores têm auxiliado no resgate, entre eles voluntários e dois grupos de brigadistas civis que tem atuado desde a sexta feira dia 25, amparando e resgatando as vítimas. Também é grande o número de médicos veterinários que se mobilizaram para auxiliar no resgate dos animais em Brumadinho.
Atuação dos médicos veterinários nesse evento
Segundo informações do Conselho de Medicina Veterinária (CFMV), médicos integrantes do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG) tem acompanhado constantemente a realização dos trabalhos de resgate de animais em Brumadinho. São profissionais que possuem experiência na atuação em desastres ambientais, inclusive atuaram dando suporte em outros eventos como no rompimento das barragens em Mariana e nas inundações do município de Rio Casca.
A prioridade dos profissionais é minimizar os prejuízos causados à saúde física e mental dos animais que se encontram na região do acidente. É importante salientar que os médicos veterinários são profissionais que recebem capacitação ao longo de sua formação técnica para fornecer o diagnóstico da saúde dos animais. E que em situações críticas podem recomendar a eutanásia.
Entenda mais sobre a eutanásia
Alguns animais se encontram atolados em locais de difícil acesso e com isso não há condições de segurança para que sejam içados e resgatados. Estes animais estão debilitados, desidratados e em condições de extremo sofrimento. Antes de optar pelo método de sacrifício, são avaliados diversos critérios.
A resolução N° 1000, de 11 de maio de 2012 dispõe sobre os procedimentos e métodos de eutanásia. Em seu capítulo I, artigo terceiro dispõe que:
“Art. 3º
A eutanásia pode ser indicada nas situações em que:
I – o bem-estar do animal estiver comprometido de forma
irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento dos
animais, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos,
de sedativos ou de outros tratamentos;
II – o animal constituir ameaça à saúde pública;
III – o animal constituir risco à fauna nativa ou ao meio ambiente;
IV – o animal for objeto de atividades científicas, devidamente
aprovadas por uma Comissão de Ética para o Uso de Animais – CEUA;
V – o tratamento representar custos incompatíveis com a
atividade produtiva a que o animal se destina ou com os recursos
financeiros do proprietário(Brasil, 2012).”
Os casos mais frequentes em que os veterinários decidem pelo procedimento, são aqueles em que os animais se encontram em situações de sofrimento em:
- Zonas de guerra
- Ocorrência de acidentes de grande magnitude
- Catástrofes naturais
Todas as situações acima estão relacionadas às áreas cujo médico veterinário não consegue controlar as condições ambientais, não encontrando meios seguros para chegar até os animais e promover a sua remoção. A Polícia Rodoviária Federal tem atuado no local desde o dia em que a tragédia ocorreu, os policiais sobrevoam a região juntamente com os médicos veterinários, que após encontrar os animais realizam a análise e triagem de cada caso.
Na tragédia de Brumadinho foram identificados casos lamentáveis, três bovinos foram encontrados atolados na lama, em estado de exaustão e com várias fraturas e perfurações. Em discussão e sob a orientação do comando da operação de resgate, chegou-se à conclusão de que a melhor medida seria a aplicação da eutanásia.
A técnica aplicada foi a utilização do rifle sanitário, a mesma deve ser executada por profissional habilitado. Então, o projétil causa dano cerebral grave e irreversível, o animal é induzido à inconsciência e insensibilidade instantânea. Estes fatores levam a uma morte rápida e indolor.
Animais resgatados e cuidados
Em notícia publicada no site G1 foi divulgado o resgate de 21 animais, estes estão recebendo os cuidados necessários. São levados para um sítio da região, onde são fornecidos medicamentos e o acompanhamento pelos médicos veterinários.
Em nota, a Defesa Civil de Minas Gerais informou que ainda existem animais vivos na região do desastre e que eles estão recebendo água e alimentação até que seja possível realizar o resgate.
Em determinação da justiça, publicada nesta segunda feira dia 29, é responsabilidade da Vale contratar ou fornecer equipe capacitada e insumos como medicamentos, alimentos, maquinário, além de viabilizar os meios para que os animais sejam resgatados e recebam todo o suporte necessário, independente da situação em que se encontrem.
Após seis dias do acontecimento do desastre, muitos animais se encontram com vida em meio aos escombros e lama. Decidir pela realização da eutanásia não é tarefa fácil para os veterinários, afinal, são pessoas que escolheram a profissão principalmente em função do amor pelos animais.
Fonte: Folha UOL, Folha de São Paulo, G1 e Compre Rural